A memória dos agrafos


Conheci alguém em tempos que me repetia insistentemente que o trabalho ideal para mim era num departamento a tirar agrafos dos papéis. Era uma alusão clara ao "castigo" de que se falava dever impor a algumas pessoas e que se repetia muitas vezes no Banco onde trabalhava há 11 anos e de onde que viria a sair 11 anos depois.

No meu caso, foi-me explicada a teoria, para não cair na tentação de achar que, para mim, seria um castigo. Eu deveria empregar a minha criatividade, a minha inspiração e o meu esforço, em coisas úteis... O caminho a escolher seria óbvia, pelo menos para o meu interlocutor: a escrita.

Não sei o que seria se tivesse seguido por esse caminho, mas não era uma opção que eu pudesse tomar. Continuei a criar - perdoem-me os puristas que acham que está tudo inventado. Fiz incursões na bijuteria, criei pratos agradáveis ao palato, doces, pickles, uma infinidade de coisas.

A escrita permaneceu comigo, cá dentro.

Hoje de quando em vez, ao olhar de relance para o que fui fazendo nestes anos e ao admirar os muitos livros que me continuam a acompanhar, mesmo depois de mudar de cidade, penso muitas vezes nesta conversa. E se...?

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