Cargos e cócegas

 Recentemente, participando num evento, alguém entra e um dos seguidores entra e de imediato olha para mim e quase que sussurra, com um ar paternalista "É o Presidente...". Isto a par das mãos a enrolar uma na outra (que serve para marcar posição ou aquecer os nós dos dedos) e de um esgar de sorriso deixa no ar um certo conceito medieval de Senhor/Servo e fez-me comichão...

Lembro de inúmeras cenas que me transportam já no mundo pseudo-moderno para todo um mundo novo/velho de servilismo e autoproclamados importantes. Tive o chefe que se levantava e quase que fazia continência quando o administrador telefonava (sim... "telefonava"), repetindo incessantemente Sim Senhor Doutor, Claro Senhor Doutor, Com certeza Senhor Doutor. Tive o cliente que se autoidentificava por Engenheiro B ou ainda um que insistia e reclamava por escrito que a correspondência dirigida a ele deveria conter sempre Conde T e nunca, mas nunca(!) o nome em primeiro lugar, "até dispensava o nome", mas Conde T tinha que constar. O chefe foi chefe até à reforma (mas nunca líder) o Engenheiro não teve grande sorte com as aplicações financeiras e o Conde não sei o que será feito dele...

Resumo da conversa? A subserviência faz-me confusão e o servilismo faz-me cócegas.

Quem tem chefe é índio, doutores são os médicos e presidente... bem... vocês não sei, mas eu tenho um e chega, que é o Presidente da República.

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