Memórias em dia de Santo António

"Se tivesses de escolher apenas uma peça de entre todas as que tens, qual salvarias?"

Pergunta ingrata para quem gosta de antiguidades mas de resposta pronta porque nesta peça estão tantas memórias visuais e olfativas que eu achava não serem possíveis!

É um saleiro mas lembro-me de o meu avô Sebastião ter aqui palitos (lembrança ou mistura de memórias?!?) e oscilar até dele sair um. Pregada a esta lembrança está o ranger da janela da marquise em ferro e o arrastar das cadeiras de ferro nos mosaicos a formar um xadrez branco e cor de tijolo avermelhado. Depois vem a imagem d"aquele" mosaico branco no centro da porta entre a cozinha e a marquise que o meu irmão pintou porque já não se encontrava mosaico com a mesma cor. Como não podia deixar de ser, porque gosto de comida... vem o cheiro (e o sabor!) das filhoses de abóbora seguido dos coscorões estaladiços acabadinhos de fritar. Recordo, claro!, a cabidela ou o arroz de coelho que a minha avó fazia sempre que "voltávamos do norte" ali por volta do início de Agosto depois das festas do Sr. dos Aflitos na terra do meu pai 'a 15km de Vila Real' (palavras dele) na Torre do Pinhão, Sabrosa, onde estreávamos todos os anos farpela nova...

Atrás do vislumbre desta peça vem uma torrente de memórias e uma delas é a de o Santo António ser o Santinho de devoção da nossa mãe, ao ponto de ela ter tido na carteira 5 notas de 20$ imaculadas por, dizia ela, lhe darem sorte. Não faço ideia o que aconteceu às notas...

Esta é uma das poucas peças que tenho da Rua da Ajuda onde nasci, herdada por força das circunstâncias por ter passado para a filha, nossa mãe e depois, ao destralhar a casa dos nossos pais, ter feito desta peça um salvado de preço incalculável... Recentemente tenho encontrado em lojas de antiguidades algumas peças similares e graças a isto iniciei uma nova pequena coleção... Até uma freira já encontrei. Mas esta... Ah esta era aquela a que eu me agarraria se o prédio caísse.


***Para ti Mãe***



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